"Onde estão os nossos mortos? Para onde levaram nossos parentes que descansavam em paz?" O questionamento, em tom emocionado, foi feito ontem por um grupo de moradores humildes da comunidade do Pium, situada a 20 quilômetros de Natal. Eles denunciaram à reportagem do Diário de Natal a situação de constrangimento a que foram submetidos para assinar um documento autorizando a remoção dos restos mortais dos sepulcros do Cemitério Novo do Pium, que foi desativado para dar lugar à construção de uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern).
Os moradores dizem que assinaram o documento sob coação da Câmara Municipal de Nísia Floresta, especialmente de um vereador, que teria visitado a todos os familiares ameaçando que se não assinassem uma construtora passaria o trator por cima dos restos mortais. O medo das ameaças levou a maioria das famílias a assinar a remoção, mas na condição de que fosse feita na presença delese pudessem acompanhar todo o processo até outro cemitério. Após a assinatura do documento, as famílias foram surpreendidas com a notícia da remoção dos corpos sem o acompanhamento de ninguém e até hoje não sabem para onde os restos mortais dos parentes foram levados.
Na manhã de ontem, os familiares voltaram ao cemitério, constataram a terra revolvida e consideraram o ato como uma "violação de cadáveres", tendo em vista que foi feito praticamente às escondidas. Dos oito corpos que foram sepultados no cemitério, exumaram seis, restando ainda dois, provavelmente porque não conseguiram assinatura de ninguém da família. Os familiares reclamam que lhes foi negado até o direito de identificar os locais onde estão enterrados e, consequentemente, o de veneração no dia de Finados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário